Depois de passar pela sala duas vezes, tomou coragem e
abriu a geladeira novamente, estava lá! Aquela garrafinha de água, tão desejada
e devidamente guardada. Após um dia estafante, esse simples ato tomou
proporções gigantescas. Matou a sede. Quais são suas pequenas ações diárias que
lhe completam, satisfazem sua volúpia? Por que não seriam as menores? Sempre
serão as menores, as mínimas, nem sempre praticáveis. O refresco causou-lhe
impacto, já não sentia mais a língua seca, amarrada. Sentiu a água descendo
levemente pela garganta, trazendo uma satisfação impar, um belo exemplo das
maravilhas mínimas que o dia a dia lhe confiava. Mais uma vez levou mais de
duas horas cortando a grama, ele sempre escrevera sobre o crescer da grama. Dizia
repetidamente que as minucias o traduziam. Ainda sobre a grama, aquele crescer
sempre o interessou, assim como tantas coisas pequenas que ocorriam ao redor,
muito mais do que as grandes. Ela crescia e alternava-se desmedidamente com o
clima. A grama aparada lhe proporciona uma visão linear de sua beleza, o verde
ficava mais rico, reluziam ao sol, muitos insetos fugiam de maneira abrupta. Continuava
cortando-a com a mesma maquina, a qual tem uma velocidade considerável, isso
reduzia o tempo de trabalho, era muito eficaz. A roseira podada, agora florescia,
assim como algumas plantas em vasos menores, eram da sua mãe, ele sempre
molhava mais que o necessário, não gostava de molhar os pés, assim como não
gostava de textos com muitas vírgulas. Olhares desprovidos de profundidade não
lhe cativavam. Tudo sempre foi apenas uma pausa para a absorção de nada em
especial. O nada crescia dentro si como borboletas lhe afagavam o estomago. Ao
redor do muro, o qual circundava a casa, uma serie de “pingos de ouro” dos
quais a maioria tinham uma cor verde rubro, era intenso, desenhavam formas
dispares sobre a calçada, fintavam o muro, necessitavam sempre de um olhar
diferenciado. Algo mais apurado. Era sempre uma pausa para aquele cortar de grama e também para aquela absorção do nada.