A poesia está guardada nas palavras - é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias
(do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado e chorei.
Sou fraco para elogios.
Manoel de Barros, In Tratado geral das grandezas do ínfimo,
Ed. Record, 2001.
Assim como tudo e mais ainda sobre tons de pálpebras, nada sei, nada quero dizer em especial, não sei se faço poesia ou falácia, só sei, eu, que despejo tudo nessas palavras, sem restrições de tempo, hora e momento. Há em mim alguém o qual desconheço, esse deve ser um tanto poeta de gaveta, um tanto filósofo de esquina. Ah! e de calçadas também. Entrego-me ao meu avesso!
Wednesday, February 29, 2012
Namorados, de Carlos Drummond de Andrade
Quem não tem namorado é alguém que tirou férias remuneradas de si mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namoro de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente
treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora em que passa o filme: de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d’agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira: Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça.
Namorados, de Carlos Drummond de Andrade.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão é fácil. Mas, namorado, mesmo, é muito difícil. Namorado não precisa ser o mais bonito, mas aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente
treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção. A proteção dele não precisa ser parruda, decidida ou bandoleira: basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição. Quem não tem namorado, não é que não tem um amor: é quem não sabe o gosto de namorar. Se você tem pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes, mesmo assim pode não ter um namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto da chuva, cinema, sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho. Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa é quem ama sem alegria. Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade. Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugida ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas: de carinho escondido na hora em que passa o filme: de flor catada no muro e entregue de repente, de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar, de gargalhada quando fala junto ou descobre a meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer cesta abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira d’agua, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos e musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos, quem não chateia com o fato de o seu bem ser paquerado. Não tem namorado quem ama sem gostar; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada ou meio-dia de sol em plena praia cheia de rivais. Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele. Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz. Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo, e quem tem medo de ser afetivo.
Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e de medo, ponha a saia mais leve, aquela de chita, e passeie de mãos dadas com o ar. Enfeite-se com margaridas e ternuras, e escove a alma com leves fricções de esperança. De alma escovada, e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo da janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteira: Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. Enlou-cresça.
Namorados, de Carlos Drummond de Andrade.
Monday, February 27, 2012
In love Afternoon
Não há medida ou fórmula exata para o amor, o amor assim como o ato de amar e ser amado devem ser, além de tudo, convívio, respeito e altruísmo constante, uma teia que deverá ser solidamente construída a cada nova manhã, assim quando seus fios se penderem para o abismo inexorável, tudo poderá ser resgatado através de sua pureza a qual deve ser impar.
Sentado na escada de cor vermelha, deixando os minutos passarem, assim sem medir o tempo, tem nos pés um chinelo de cor vermelha, deve estar com a sola gasta, sempre acaba por escorregar pela calçada. O sol era imponente naquele dia, ardia a pele, não ficaria exposto por muito tempo. Poucos minutos lhe proporcionavam deixar de lado todo fardo das preocupações cotidianas, as vicissitudes. Sentia falta da máquina de escrever, não era avesso às chamadas novas tecnologias, porém, sentia muitas saudades dos velhos hábitos. Saudosismo às avessas; nasceram com ele.
As nuvens borravam o céu com rajadas de branco puro, elas tornavam-se formas aleatórias, das mais variadas, encontrava desenhos juvenis, a brisa era amena, passava tudo e nada ao mesmo tempo, o maior desejo era abster-se de todo e qualquer desconforto, das geométricas fragilidades, responsabilidades, sorrisos e/ou reclusão, apenas sentia, por alguns minutos, segundos, esses duravam muito mais que o tempo do relógio. O silêncio era oportuno, tão eloqüente quanto um discurso sem substância. Quando o sol baixar será o momento de parar, afinal o que é ser amoral?
Ele.
Sentado na escada de cor vermelha, deixando os minutos passarem, assim sem medir o tempo, tem nos pés um chinelo de cor vermelha, deve estar com a sola gasta, sempre acaba por escorregar pela calçada. O sol era imponente naquele dia, ardia a pele, não ficaria exposto por muito tempo. Poucos minutos lhe proporcionavam deixar de lado todo fardo das preocupações cotidianas, as vicissitudes. Sentia falta da máquina de escrever, não era avesso às chamadas novas tecnologias, porém, sentia muitas saudades dos velhos hábitos. Saudosismo às avessas; nasceram com ele.
As nuvens borravam o céu com rajadas de branco puro, elas tornavam-se formas aleatórias, das mais variadas, encontrava desenhos juvenis, a brisa era amena, passava tudo e nada ao mesmo tempo, o maior desejo era abster-se de todo e qualquer desconforto, das geométricas fragilidades, responsabilidades, sorrisos e/ou reclusão, apenas sentia, por alguns minutos, segundos, esses duravam muito mais que o tempo do relógio. O silêncio era oportuno, tão eloqüente quanto um discurso sem substância. Quando o sol baixar será o momento de parar, afinal o que é ser amoral?
Ele.
In Hermann Hesse
“Odor da cálida intimidade, de coelhos e criadas, de remédios caseiros e de frutas frescas. Dois mundos diversos ali se confundiam; o dia e a noite pareciam provir de polos distintos”.
Hermann Hesse.
Hermann Hesse.
Thursday, February 16, 2012
Sobre o tempo
Ele não vai lhe falar sobre esse tempo, como esse tempo têm passado tão rápido aos olhos, pois esse é o tempo inventado, que imagina ser, que é por demais imposto, e, portanto aceitaçao, imposição ou não, o tal tempo do relógio.
Falou então de outro tempo, o tempo das sensações...
As palavras serão apenas de sensações, anseios, frustrações, conquistas, devaneios, perdas e ganhos, serão palavras que saltam do céu, sem restrições, alheias ao tempo escolhido, marcado.
É o descompasso.
Deita seu dorso sobre a relva gelada e deixe que a chuva molhe a alma.
Guardou-a no tempo eterno da retina.
Ele.
Falou então de outro tempo, o tempo das sensações...
As palavras serão apenas de sensações, anseios, frustrações, conquistas, devaneios, perdas e ganhos, serão palavras que saltam do céu, sem restrições, alheias ao tempo escolhido, marcado.
É o descompasso.
Deita seu dorso sobre a relva gelada e deixe que a chuva molhe a alma.
Guardou-a no tempo eterno da retina.
Ele.
Wednesday, February 15, 2012
Espuma de Vidro
Andando em dias de céu azul, pele alva, arde com o sol forte.
Queima, assim como paixões em semanas despedaçadas.
Andar em ruas de calçadas paralelas, olhos se alimentam de olhos.
Mãos devidamente amparadas por minúsculas ampolas de sal, cáustico e frio.
Coração pulsa em batidas avulsas, desmedidas são as horas, solitárias.
Sonhos trilhados em linhas retilíneas sobem e descem montanhas sem queda.
Lábios de carvão, humedecidos pela garoa fina, chuva de plástico.
Pétalas roxas habitam a caixa desbotada, presente sem cor em dias de luto.
Movimentos disformes sobre a cama angular, fragrâncias no cetim.
Orações quando o sol se põe.
Saudades invisíveis.
Pés descalços sobre a grama azulada.
Amigos de gelo.
Amores flutuantes, espuma de vidro.
No brilho da estrela cintilante, esconde-se a promessa desfeita, efêmera.
Eu.
Queima, assim como paixões em semanas despedaçadas.
Andar em ruas de calçadas paralelas, olhos se alimentam de olhos.
Mãos devidamente amparadas por minúsculas ampolas de sal, cáustico e frio.
Coração pulsa em batidas avulsas, desmedidas são as horas, solitárias.
Sonhos trilhados em linhas retilíneas sobem e descem montanhas sem queda.
Lábios de carvão, humedecidos pela garoa fina, chuva de plástico.
Pétalas roxas habitam a caixa desbotada, presente sem cor em dias de luto.
Movimentos disformes sobre a cama angular, fragrâncias no cetim.
Orações quando o sol se põe.
Saudades invisíveis.
Pés descalços sobre a grama azulada.
Amigos de gelo.
Amores flutuantes, espuma de vidro.
No brilho da estrela cintilante, esconde-se a promessa desfeita, efêmera.
Eu.
Wednesday, February 08, 2012
Fuga
Só há um desejo em mim, de roubo, vêm e furta-me, leva-me contigo, em palavras e sonhos... Espero-te debaixo daquela sombra, por mais tênue que seja, leva-me?
Agora, de matéria, já é concretude.
Eu.
Agora, de matéria, já é concretude.
Eu.
Apenas depois da chuva
Abriram-se cortinas em tom rosa.
Aponta pela fresta um olho de sol.
Desabrocham lábios em nuvens lilases.
Brilham no espelho meus cabelos de areia.
Eu.
Aponta pela fresta um olho de sol.
Desabrocham lábios em nuvens lilases.
Brilham no espelho meus cabelos de areia.
Eu.
Algo sobre o maniqueísmo
“O que é bom e o que é mal, não sei.
São coisas que eu sempre tive por duvidosas.
Bom é o Homem, quando consegue estabelecer uma harmonia entre seus instintos primitivos e sua vida consciente.
Se não o faz, é um Homem mal e perigoso”.
Hermann Hesse.
São coisas que eu sempre tive por duvidosas.
Bom é o Homem, quando consegue estabelecer uma harmonia entre seus instintos primitivos e sua vida consciente.
Se não o faz, é um Homem mal e perigoso”.
Hermann Hesse.
Subscribe to:
Posts (Atom)