Thursday, January 17, 2013

Vielas.

Todo dia quando descia aquela rua estreita, sem rumo nos olhos, desfeitos os cabelos ralos por um vento matinal que vinha como carícia e torpor, a indagação sempre era a mesma, porque têm essa mania em decorar as cores do céu? Os tons de azul nunca eram os mesmos. Ainda assim, em certos dias, preferia o cinza. Opaco. Cor nefasta. Tinha apreço por tons e cores. Dizia: Tudo é relevo sobre o fundo branco dos olhos. Como aqueles degraus e seus espaços mínimos, desaceleram olhares. Andava subitamente com mãos disformes, ao vento. Avistava como lampejos de rotina, pássaros que voavam com asas quebradas, retorcidas. Ao avistar figuras assimétricas, usava palavras desbotadas na ponta da língua, sempre em trajeto angular, registrava carimbos em escadas rachadas. É o que relembrava todos os dias durante aquela descida matinal. Olhos fulminantes vigiavam-no por detrás das janelas sem vidro. Permanecia inquieto, ainda sem palavras. Silêncio, tão proposital. Havia ali notoriamente ainda algo de si naquelas pálpebras azuladas. Escondidas em esquinas, vielas ou em ruas flutuantes... *Ele.

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