Tuesday, September 27, 2016

Vazios

Era só mais uma tarde, dessas onde se espera a possibilidade de esgueirar-se por entre a infelicidade de um cotidiano massivo e dilacerante ou a imprecisa espera por uma ociosidade contemplativa do nada. Nada é também felicidade.
Para Gertrudes e Agatha, garotas de pálpebras acinzentadas, dedos finos e cabelos nos ombros, o 'nada' declarado tinha sentido obtuso e disforme, visto por olhos alheios, afinal como contemplar o nada
Para ambas só era possível contemplar o nada a partir de uma total inversão, pois o nada é ao mesmo tempo tudo. Gertrudes não existiria sem Agatha, assim como, Agatha só se via em si mesma como reflexo de Gertrudes.

Frustradamente tentavam analisar o espaço que as separava, sendo esse espaço inexistente, pois se percebiam uma como a extensão da outra. 
Aquelas folhas secas de inverno colhidas por Agatha só representavam beleza se sua contemplação fosse percebida por Gertrudes, a partir dos novos dias daquela nova estação não existiria mais o nada, sendo Agatha e Gertrudes extensões de si mesmas, tudo lhes era caro, o vazio, o contemplativo, o belo, o obscuro, a felicidade; fundiam-se.

Ele.
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